É fato que Jesus não criou uma religião. O surgimento do cristianismo é bem posterior a sua passagem pela Terra, uma construção daqueles que, de alguma forma, viram em seus enunciados uma fonte de inspiração e vinculação ao imponderável. Por conceito, o Cristianismo é uma religião monoteísta fundada sobre a vida de Jesus Cristo e os seus ensinamentos (dicionário Priberam). E Cristão é aquele que professa a religião de Cristo (idem).
A Doutrina Espírita descreve a sua vinculação com Jesus na qualidade do “tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de modelo” (LE – q. 625). Outras crenças o admitem como salvador e ainda como a encarnação do próprio Deus. À parte das controvérsias daqueles que pretendem segui-lo é inequívoco que a qualidade de sua filosofia desafia a capacidade de seus seguidores em manterem honesta adesão aos princípios que pretendeu semear como essência do seu pensamento.
Uma questão de ordem: O que exatamente significa professar o Cristianismo quando se estabelece a caminhada de cada dia na defesa dos interesses e costumes que compõem a rotina dos bilhões de pessoas que dizem seguir os passos de Jesus?
Superados os graves erros históricos perpetrados pelos cultos instituídos em nome de Jesus, denominadas Cruzadas e Inquisição, cujo perdão à humanidade foi solicitado pelas instituições responsáveis, quais as iniciativas se pretende associar ao cristianismo no presente momento da humanidade?
É preocupante a facilidade com que se associa na atualidade o nome de Jesus aos projetos e práticas que arrastam multidões que mais parecem arrastões de barbárie, ora guiados pela sanha de ganhos pecuniários, de outras vezes como fomentadores de ódio contra aqueles julgados na condição de adversários. Aparentemente em defesa da Religião, dos bons costumes e do que consideram família. Repetem-se as palavras de Jesus em um discurso desfigurado e descabido que se associa ao caos e à perseguição.
Por outro lado, a doutrina espiritual e social de Jesus, permanece intacta e incorruptível em sua essência, imune aos avanços de falsas proposituras, como uma rocha inabalável que não se treme diante de instabilidades ocasionais.
É urgente que o pensamento contemporâneo se curve à aplicação ampliada dos tesouros deixados pelo Mestre para a verdadeira revolução que haverá de descortinar no planeta a possibilidade da construção de uma nova era, que se imponha por não ser distópica nem individualista. Urge entender que a Terra é um eco-organismo e a coletividade de todos os seres que a compõem responde solidariamente por todos os cometimentos interativos.
O discurso de Jesus envolve a todos numa concepção de mútua proteção, ao contrário nada teria a ver com ele. Supera o anacronismo que intentam lhe imputar. Há muito desceu daquela cruz que alguns insistem em mantê-lo. O alvo de suas prédicas é sempre o público de agora, com todas as implicações do momento. O conteúdo de sua mensagem é político, é sociológico, é humano, é universal, é atemporal. Serviu ontem e hoje é atualizado.
Importa àquele que se revela cristão - e essa a maior questão de ordem - decidir se, enfim, vai seguir o mapa que Ele nos deixou, andar no caminho ou se perder na margem.
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