Por Ana Claudia Laurindo
Tenho observado com recolhimento d’alma o quanto as dores nos assemelham. Sejam grandes ou pequenas, elas nos fazem lembrar que conhecemos aquele gosto ou desgosto.
O caso triste da família de Marcelo Arruda, que após perder a presença material de um ser amado é obrigada a conviver com outras formas de morte a ele impostas pelas instituições, pelos comentários de ódio, pela tensão gerada no imo de interesses políticos opressores, me fez reviver minha dor particular quando me levaram o calor de um corpo amado e espalharam com esmero a mácula da culpa sobre a memória do morto.
O coração, esse símbolo dos sentimentos, rachado de dores palpita forte nesta luta, onde a força que mata ainda mais tortura o vivente que fica sofrendo.
Os crimes políticos, de mando, de ódio, possuem as mesmas características de crueldade.
O enlutado perde de forma sequencial, até que não possua mais força para falar, balbuciar, pensar.
A invisibilidade da denúncia vai sendo imposta a partir do caráter absurdo a ela reportado.
Jamais esquecerei o sorriso que brilhava nos olhos sarcásticos de um juiz, no comentário malévolo de um desconhecido, na dor cabisbaixa do meu pai.
Famílias marcadas pelo desprezo comum, devem chorar a simbologia da não-reação, da distopia legal entranhada nos nichos institucionais. A força da ideologia é sustentada pela violência da declaração estatal.
Que grande dor se espalha pelos rincões desta nação!
A dor pequena da minha neta de oito anos, esbanjada em lágrimas grandes quando raquearam seu jogo online, e seus questionamentos sobre a razão da maldade, me fizeram enxergar o rosto de menina que também carrego, banhado nestas lágrimas consentidas.
Sofrer tem poder de parecença, nos faz lembrar Jesus dizendo para tomar como medida para o outro aquilo que desejamos para nós mesmos, e também faz pensar na maquiagem mental espalhada sem pudor para justificar a anestesia que assola o mundo em todos os momentos de opressão.
Matar o outro é matar essa consciência de igualdade latente.
Recusar evoluir conceitos e travar sensibilidades, deixando escorrer o peso da brutal inclinação ao domínio, o desejo pela vaga de Deus.
Retirar a luz do olhar de alguém tem servido para esquentar o comércio de iluminação.
Ajudemos os que precisam de sopro vital, pois sem vida não há denúncia.
Apenas sobrevivendo será possível recompor o fio da história com alguma esperança.
Essa tem sido a saga que vestimos todas as manhãs, envolvendo erros e acertos, cafés e vinhos, na fome de continuar lutando pelos amores válidos.
Não desacredite dos que insistem.
Acolha a voz dos que se perderam em lamúrias, ouvindo em suas bocas as milhares de outras torturadas, sufocadas, impedidas de pronunciar a palavra justa.
Emoção rediviva. Palavras casadas com gestos de pouca espera. Trilha de marés e solidões seculares. Busco agora fechar esse imenso coração brasileiro com algumas poesia existencial, pois sei que ele é meu também.
Abraço a dor.
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