Por Sérgio Aleixo
40 anos da morte de J. Herculano Pires. Para Herculano Pires, “o espírita tem, como cidadão, o direito e o dever de intervir na vida civil do seu país, de participar dos pleitos eleitorais, tanto votando como sendo votado.” E “criaríamos uma ilusão antiespírita se acreditássemos na possibilidade dessa abstenção política alvitrada por alguns confrades em diversas ocasiões.” José Herculano Pires, “Apóstolo Do Espiritismo”
Ele lembra a imagem do rev. Stanley Jones, em Cristo e o Comunismo, de que o marxismo é o chicote do templo para expulsar os vendilhões. Mas que pode a humanidade torná-lo dispensável, bem como a qualquer corrente esquerdista revolucionária, se optar pelo caminho da espiritualidade, ou seja, se se afastar do “individualismo capitalista, que a tudo corrompe e desvirtua”.
Propõe Herculano o que chamou “movimento do Reino”. Uma resposta à situação incômoda vivida, segundo ele, pelo verdadeiro espírita em face das influências perigosas exercidas pela política e pelos partidos sobre espíritas e suas associações; uma solução intermediária entre dois extremos: transformar o movimento espírita em partido político, ou fundar um movimento político que arregimenta espíritas enquanto está à margem do espiritismo.
Este movimento do Reino, sem ser necessariamente integrado apenas por espíritas, mas por indivíduos com filiação política ou não, se constituiria por todos que aceitassem seus “objetivos sociais”, sua “reivindicação social e moral, com vistas ao estabelecimento de uma ordem mundial baseada na justiça, no equilíbrio, na fraternidade e no entendimento.”
Segundo Herculano, “teria de ser um movimento socializante, contrário ao individualismo capitalista”, e que “poderia começar pelo estabelecimento de um sistema cooperativista de natureza cristã, cujas unidades seriam as pedras fundamentais da nova ordem econômica.”
Se, por um lado, tornar o espiritismo uma derivação política de si mesmo embaraçaria ou prejudicaria de vez a execução de sua tarefa divina de trabalhar o coração dos homens, por outro, a dispersão dos espíritas pelos vários partidos políticos equivale, para Herculano, a uma demonstração de incoerência, de uma falta de objetivo político e social na própria doutrina espírita, que o têm.
Portanto, Herculano Pires propõe um caminho que, se bem refratário às manipulações demagógico-partidaristas de direita e de esquerda, faz questão de se afirmar socializante e contra o individualismo capitalista, que a tudo corrompe e desvirtua; caminho que, visando atingir uma nova ordem econômica mundial mediante um sistema cooperativista (e cristão), decerto já não aceita a denominação de capitalismo.
Utopia? Bem… Isso caberia numa longa conversa, que eu adoraria ter com Herculano, regada a café.
(Cf. PIRES, Herculano J. O Sentido da Vida. In: Sociologia espírita, pp. 73/81. São Paulo: Paidéia, 2005.)
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