O Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB), o Instituto de Estudos da Religião (ISER) e a Iniciativa Fé no Clima propõem a carta aberta Fé na Democracia à sociedade brasileira. O lançamento oficial da carta acontecerá no dia 24 de outubro, às 19h, no CEBB Caminho do Meio e será transmitido pelo canal do YouTube do CEBB.
A Carta Fé na Democracia está em construção e congrega expressões religiosas, ambientais, direitos humanos, povos tradicionais, cientistas, ativistas sociais, os quais manifestam, por meio desse documento, valores que acreditam ser fundamentais para o momento crítico vivido pelo Brasil.
Diversas entidades apoiam a iniciativa: Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN), Instituto Zen Maitreya, Zendo Diamante, Comunidade Zen Budista Zendo Brasil – Templo Taikozan Tenzui Zenji, orientada pela Monja Cohen Sensei, e Instituto Caminho do Meio (ICM). A visão expressa na Carta acompanha a trajetória dessas entidades ao longo de sua existência.
Lançamento da Carta >> 24/10 às 19h
Carta Fé na Democracia
(em construção)
O Brasil está num momento muito grave, no qual a democracia está sendo questionada sistematicamente, inclusive com sérias ameaças ao equilíbrio entre os poderes, assegurado pela Constituição Federal Brasileira, e à própria Constituição, pilares de uma nação republicana. Isso resulta em descrédito das pessoas nas instituições.
A corrupção, com desvio de recursos públicos e emendas parlamentares obscuras, se apresenta como um comportamento endêmico ao longo de nossa história, sob as mais diferentes formas, comprometendo políticas de governo, empresas públicas, beneficiando políticos, empresas e seus afiliados. Além disso, o cerceamento dos instrumentos e estruturas de investigação, traz grande prejuízo aos valores democráticos.
Na economia, a alta de preços dos produtos necessários à sobrevivência oprime as famílias e leva ao endividamento, a falta de empregos tira a perspectiva de futuro para milhões de pessoas e a fome reaparece com potência, assolando as periferias.
As florestas e biomas, fundamentais para a existência da biodiversidade e manutenção da vida no planeta, são constantemente ameaçados, destruídos e desprotegidos pelas autoridades, trazendo severas mudanças no clima e, com isso, toda a vida humana poderá sucumbir.
As comunidades tradicionais, em especial os Povos Indígenas e Quilombolas, estão sendo impelidas à condição anterior à Constituição de 1988, deixando de ser reconhecidas nos seus direitos fundamentais, voltando a ser ameaçadas e retiradas de seus territórios por força das invasões de suas terras, queimadas, grilagem, garimpo e narcotráfico.
A educação pública brasileira está fora das prioridades, sofrendo redução drástica de recursos, difamação do ensino e dos profissionais, e descaracterização das estruturas educacionais, em todos os níveis. Soma-se a isso a ausência total de diálogo e o autoritarismo governamental.
A Pandemia de Covid evidenciou o movimento de descaracterizar o Sistema Único de Saúde brasileiro (SUS), através da ausência de definições e de coordenação no nível federal, acrescida das orientações equivocadas e sem comprovação científica na prescrição de tratamentos. A demora na aquisição de vacinas e os maus exemplos quanto à sua importância corroboraram para o seu descrédito.
A violência é aquecida pela facilitação do comércio e aquisição de armas e por falas de ódio que colocam as pessoas em permanente estado de tensão e aflição, aumentando a insegurança, a intolerância religiosa, a discriminação racial, territorial, de gênero, sexual e de afetos.
Nesse sentido, propomos valores que consideramos fundamentais na definição do próximo presidente do Brasil e de seus auxiliares, assim como no posicionamento das instâncias legislativas e judiciárias, com respeito à Constituição e às Declarações e Convenções Internacionais referentes aos valores e direitos fundamentais dos seres humanos e da biodiversidade.
Conclamamos por:
Direito à vida digna, sustentável e preciosa. Bem-estar físico, emocional e social. Redes humanas assentadas em compaixão, pacificação, valorização, respeito e lucidez.
Uma cultura de paz, em todos os níveis e em todos os lugares, opondo-nos às visões autoritárias, sectárias, armamentistas e violentas nas disputas políticas e no convívio social. Uma paz que nos permita falar e ouvir com abertura e interesse.
Justiça social e liberdade. Acesso amplo às condições básicas (físicas, emocionais e sociais) de apoio à vida: infraestrutura básica; alimentação de qualidade; saúde integrada e preventiva; segurança física e emocional; justiça ampla e restaurativa; educação que inclua o livre pensar, o respeito à diversidade, o mundo interno e as emoções; liberdade de movimento, pensamento e expressão. Nesse sentido ratificamos o contido no art. 6 da Constituição brasileira e reforçamos o caráter de igualdade para todos dessa proposição.
Respeito à diversidade religiosa, à laicidade do Estado e valorização das diferentes culturas e expressões que compõem nossa sociedade, incluindo os povos tradicionais, as expressões e modos de vida de matriz africana, as diferentes culturas e religiões, as pessoas com deficiência, as mulheres, as diferentes expressões de gênero, sexualidade e afeto. Uma postura que vá além da tolerância: que inclua generosidade, respeito e um interesse genuíno por todos os humanos.
Proteção, apreciação e reconexão com a natureza, a partir da consciência da interdependência entre toda a vida na Terra e da compreensão dos impactos de nossos movimentos nos diferentes grupos humanos, nos animais e vegetais, na terra, nas águas e na atmosfera. A proteção dos ecossistemas e o fortalecimento da Soberania Alimentar e das práticas agroecológicas, familiares, saudáveis, orgânicas, integradas ao ambiente e às culturas tradicionais.
Auto-organização e redes de apoio, através do favorecimento da formação de redes baseadas em solidariedade, apoio mútuo e visões não sectárias de coletividade. Construção de espaços múltiplos de diálogo, de associações comunitárias, de fomento de projeto e de ações construídas coletivamente de forma horizontal e descentralizada.
Garantia da democracia e respeito à Constituição, com participação ampla da sociedade em conselhos municipais, estaduais e federais. Comunicação pública ampla e transparente entre governos e sociedade civil. Mais espaços de abertura para que a sabedoria das diferentes redes possa se traduzir em políticas públicas responsáveis e efetivas. Ratificamos a carta das nações unidas em seu art. 1, n.2 : Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
Autodeterminação das nações e protagonismo brasileiro no fortalecimento da paz e relações de cooperação, assim ratificamos a carta das nações unidas que afirma em seu art. 1, ítem II: Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal. Um protagonismo que sempre exerceu e sempre foi reconhecido como uma liderança latina na diplomacia mundial.
Com isso acreditamos que os postulantes ao mais alto posto da nação possam se colocar numa posição elevada, de interesse real pelo país, cuidando das pessoas e da natureza, de forma pacífica, gerando esperança, confiança e alegria num futuro respeitoso, honrado e altivo.
Outubro de 2022
Iniciativa muito bem vinda
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