Por Doris Gandres
O Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda, nos diz que cidadania é a qualidade de cidadão; e que cidadão é o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado.
Na questão 877 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta: A necessidade de viver em sociedade acarreta para o homem obrigações particulares? E a resposta da Espiritualidade é inconfundível: “Sim, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos de seus semelhantes; aquele que respeitar esses direitos será sempre justo. No vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei de justiça, cada um usa de represálias, e é isso que produz a perturbação e a confusão da vossa sociedade. A vida social dá direitos e impões deveres recíprocos”. Por isso, à pergunta de Kardec (LE q.806), se as desigualdades sociais fazem parte da lei natural, a resposta é taxativa: “Não; é obra do homem e não de Deus”.
Portanto, quando no dicionário se lê que “cidadão é o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado”, face ao que ao acima exposto podemos acrescentar que esse cidadão precisa igualmente cumprir com seus deveres para com a sociedade e o Estado.
Estamos no mês de outubro, mês em que exerceremos o nosso mais importante direito e dever como cidadãos perante a sociedade – o voto. Votar significa entregar a outrem uma procuração para agir em nosso nome, sempre no interesse do bem comum, visando à consecução de meios que possam melhorar as condições sociais e de vida de todos os cidadãos que integram a nação, não importando a faixa etária, a etnia ou a classe econômica a que pertençam.
DIVALDO AO ESPÍRITO BEZERRA DE MENEZES
Divaldo – Como explicar a missão histórica do Brasil, se nós exportamos armas? E o carma que iríamos gerar? E Bezerra responde com outra pergunta: “Você votou nas autoridades que hoje administram o país?” Divaldo: “Não Senhor!” E novamente Bezerra: “O carma não é do Brasil, é dos indivíduos que tomaram o poder e levaram o país à indústria da morte. Não se preocupe. Quando você votar e o país tomar um rumo, então você é o responsável, porque o rumo que o país seguir será o resultado do homem que você escolheu. Se você escolheu porque tinha interesses pessoais e não os interesses da comunidade, você responderá pelo carma histórico e coletivo que virá” (extraído da Revista Presença Espírita, mai/jun/1989 – órgão de divulgação do Centro Espírita Caminho da Redenção, Salvador/BA).
A Doutrina Espírita nos esclarece que somos princípios inteligentes do Universo (LE q.23) chegados ao ponto de seres inteligentes da Criação (LE q.76) e, ainda, que não há possibilidade de retrocesso nessa escala evolutiva (LE q.118). Isso faz de nós Espíritos dotados de livre arbítrio, discernimento e capacidade de escolha, já suficientemente esclarecidos e conscientizados da nossa responsabilidade perante as situações da nossa vida pessoal e da coletividade em geral.
Na Revista Espírita de março de 1869, Allan Kardec comenta: “Com o ser espiritual independente, preexistente e sobrevivente ao corpo, a responsabilidade é absoluta (...) O Espiritismo a demonstra como uma realidade patente, sem restrição, como uma consequência natural da espiritualidade do ser. Provar que o homem é responsável por todos os seus atos é provar a sua liberdade de ação, e provar a sua liberdade é revelar a sua dignidade.”
Deolindo Amorim, em seu livro O Espiritismo e os Problemas Humanos, capítulo II – Entre Deus e César, afirma com muita propriedade: “Diz-se às vezes que o Espiritismo se descuida inteiramente da vida material. É uma suposição totalmente errônea. Bastaria lembrar que a Doutrina Espírita reprova a omissão ou o enclausuramento deliberado para fugir do mundo, pois devemos participar e, assim, oferecer à sociedade a nossa cota de serviço (...) A Doutrina Espírita nunca esteve e não está à margem dos problemas humanos (...) O pensamento social da doutrina ainda não foi descoberto em sua plenitude, a não ser pelos que se interessam por esta área de estudos.”
Apenas com essas poucas citações já podemos efetivamente perceber o alcance social do Espiritismo e, ainda, que nós, espíritas, mais do que ninguém, precisamos entender em profundidade a nossa condição de cidadãos e exercê-la com seriedade e lisura, não só no momento do voto, mas diariamente, nas mais pequeninas atitudes do cotidiano – informar-se, participar, reivindicar civilizadamente direitos justos para todos, cumprir com nossas obrigações em geral de forma fraterna (LE q.573), é dever de “homem de bem”, preocupado em finalmente procurar por em prática o “fazer ao outro o que desejo o outro me faça”.
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