terça-feira, 4 de outubro de 2022

É HORA DE ESPERANÇARMOS!

 

 

Pé de mamão rompe concreto e brota em paredão de viaduto no DF (fonte g1)

 Por Alexandre Júnior


Precisamos realmente compreender o que significa este momento e o quanto é importante refletirmos sobre o resultado das urnas. Não é momento de desespero e sim de validarmos o esperançar!

A História do Brasil é feita de invasão, colonização, escravização, exploração e morte. Seria ingenuidade nossa imaginarmos que este tipo de política não exerce influência na formação do nosso povo.

Embora sejamos formados pelo sangue dos pretos e dos povos originários, a sanha de quem detém o capital no Brasil é por tornar o próprio sangue “azul”. O “azul” do sangue dos que nos colonizaram, nos exploraram e nos mataram! Ensinaram tão bem aos brancos detentores do dinheiro no Brasil que até os dias de hoje eles perpetuam esta prática. Eternizarão enquanto não conseguirmos entender que a luta é de classes, e que precisa e deve ser precedida de uma consciência que contemple uma perspectiva de gênero e raça.

Diz Conceição Evaristo: “Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”. Essa frase nunca foi tão real e pertinente. O bolsonarismo nada mais é que a mão do carrasco colonizador, e ignorância sequenciada dela, hoje travestida na elite branca, heterossexual, heteronormativa, classe média e - como não poderia deixar de ser, pois perderia a sua real essência - fundamentalista religiosa! Com toque nazifascista, esta ideologia política põe o seu deus e a sua pátria acima das pessoas, o que é diametralmente contra todas as doutrinas humanistas de que se tem notícia. Em nome de “Jesus Cristo”, sentenciam o Jesus de Nazaré à morte pela segunda vez. Desta feita, a desdita é ideológica.

Assim sendo, onde se ancoram as justificativas para a vivência e proliferação desta ideologia de extrema direita, que não seja na ignorância de uns, no fanatismo de alguns e na maldade de outros?

Precisamos identificar quais as dificuldades que enfrentamos hoje. Quem são as pessoas que consciente e/ou inconscientemente combinaram de nos matar, puxando o gatilho ou dando o aval através do voto, terceirizando o trabalho, dando outorga para que outros façam o serviço. Pois só assim poderemos nos unir e “combinarmos de não morrermos”. O bolsonarismo mata, seja por falta de vacina, ou por validação, motivação e reprodução das violências sociais!

As práticas de morte vão desde o estabelecimento da “família tradicional brasileira” pelos “homens de bem” e pela banalização e subalternização da vida dos que não fazem parte deste arranjo tradicional e excludente!

Práticas políticas neoliberais que desprezam a vida em nome do capital, mas em suas intimidades são consideradas “espiritualistas e cristãs”. Qual ação é cristã, quando despreza a vida de quem quer que seja? O interessante é que uma parte significativa das pessoas que defendem estas ações da esfera capitalista é terminantemente contra a discussão política dentro dos seus templos religiosos! O que nos faz pensar: para estas pessoas, o que é política? O que fez Jesus de Nazaré quando se posicionou diante das barbáries praticadas pelos religiosos hipócritas de sua época? Quem eram os verdadeiros sepulcros caiados?

Diz Freire que não há neutralidade: ‘a sua ideologia é inclusiva ou excludente”! Em memória de Gregório Bezerra, Carlos Marighella, Marielle Franco e Anderson Gomes, Dom Philips e Bruno Pereira, Irmã Dorothy. Em nome de todas, todos e todes os torturados e mortos na ditadura militar, pessoas que deram a sua liberdade e a sua vida para que pudéssemos votar! Em nome dos povos originários, da polução preta e da população LGBTQIAP+, das pessoas em situação de rua, dos injustiçados, violentados, assassinados por este sistema devorador de vidas e ceifador de esperanças. Em nome de todas estas populações, precisamos nos manter unidos, resistentes e esperançosos! Mas, combinaremos de não morrer, e, para isso, é necessária a esperança de esperançar, aquela que nos faz lembrar de como seria o mundo sem nossa resistência constante. Viver neste país é como diz Alexandre Júnior: ‘É quando existir é uma questão de resistência”. Vamos nos manter acesos, ativos, vivos, combativos, resistentes e amorosos. E de forma democrática vamos trabalhar incessantemente para que o nosso país se liberte do jugo deste governo fascista, que insiste em nos matar! A esperança não é uma ação individual. O verbo esperançar é conjugado e vivido coletivamente. Se faz no social, na resistência e se perpetua no amor, que, diferentemente da violência, congrega! Não é um amor que paralisa. São afetos que nos mobilizam, um em função do outro, um em busca do outro, pelo bem comum! Isso torna o próprio amor um ato político! Por isso, “prefiro ser esta metamorfose ambulante”, pois, “amar e mudar as coisas me interessam mais”, para não apagarmos as “memórias de um tempo, onde lutar por seus direitos, é um defeito que mata”, uma vez, que estas mesmas lembranças e os tempos tão tortuosos que vivemos nos fazem compreender verdadeiramente que “o amor é um ato revolucionário”.

 

Referências Bibliográficas

"Combinaram de nos matar. Mas nós combinamos de não morrer" (Conceição Evaristo)

Espiritismo, Educação, Gênero e Sexualidades. Um diálogo com as Questões Sociais. JÚNIOR, Alexandre, Recife: CBA Editora, 2022.

Pedagogia da Autonomia. (Freire, 2011) FREIRE, Paulo. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2011.

Músicas

Alucinação. Belchior

Metamorfose Ambulante. Raul Seixas.

O Amor é Um Ato Revolucionário. Chico César.

Pequena Memória para um Tempo Sem Memória. Gonzaguinha

19 comentários:

  1. Muito pertinentes as suas ponderações, Alexandre. Temos um longo trabalho para construir uma cultura de valorização da nossa brasilidade.

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  2. A ideologia bolsonarista merece todo o nosso repúdio e indignação. Mas está posto e constitui nosso ginásio psicológico para exercermos a máxima do Cristo: "amarais o vosso inimigo", ou seja, não desejar o mal (ufa! ainda bem que amar o inimigo é isso). Nesses quatro anos, essa é minha luta interior. Não classificar o caráter das pessoas pela sua opção política.

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  3. Que lindo texto. Nestes momentos tão difíceis, é bom conjugar o verbo esperançar. Obrigada Alexandre.

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  4. Infelizmente, tudo é olhado na superficialidade; já nos esquecemos das barbaridades ditas e feitas, com três meses de enganação, benesses econômicas e o derrame do orçamento secreto nas igrejas, tudo é esquecido e dá apoio aos maus carater da religião e ao povo incauto. Matenhamos a esperança. Parabéns pelo texto.

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  5. Tmj nós combinamos de não morrer.💪🏽✊🏽🌷

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  6. Gratidão pelo texto tão oportuno, buscava algo neste formato que me representasse. Regina.

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  7. Obrigada por seu texto, Alexandre, que nos convida a refletir sobre o que precisamos compreender para não nos deixarmos morrer, principalmente a morte em vida. Essa construção social que nos torna carrascos de nós mesmos, espécie humana, nos afundará cada vez mais nos buracos que tem a ignorância político-ideológica como o empurrão que nos ajudam a ruir.

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  8. Este deus fascista é das tribos primitivas do velho testamento. Jesus mostra um Deus de amor e misericórdia.

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    1. Poderia tranquilamente assinar esse texto, Alexandre. Ele traduz tudo o que o país está vivendo. Naturalmente, somado às práticas que por muitas vezes calaram vozes e ceifaram vidas, encobertos por um racismo estrutural perverso. Que a cada dia, possamos ter a consciência para discernir as situações vividas. Fé, força e coragem para preparar um novo amanhã.

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    2. Excelente manifesto, contra a Barbárie Bolsonarista. Apontando os caminhos e as propostas da tão nefastas, além de ser um belo texto. E a questão do Amor no final é fundamental, principalmente quando nos referimos a Educar.

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  10. Excelente o seu texto, Alexandre! Lúcido e preciso para definir o drama histórico-social do Brasil. Continue firme na sua cruzada pelo esclarecimento como ferramenta de transformação coletiva! Um abraço, amigo!

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  11. Alexandre,você sempre coerente em seus argumentos, nos trazendo uma visão acessível, lógica e clara da situação do Brasil de hoje,que temos e não queremos. E que precisamos usar a linguagem da esperança para vencer o ódio, a indiferença, o desamor. Parabéns,meu amigo!

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  12. UM PRAZER LER MEU AMIGO ALEXANDRE JÚNIOR! VOCÊ É BRILHANTE NAS SUAS REFLEXÕES. (Haydee)

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  13. Confesso caro Alexandre, o desânimo me alcançou no domingo após o resultado, e tão logo li seu artigo, a esperança renasceu em mim, sacudi a poeira e retornei à luta. Realmente, nós combinamos em resistir; combinamos em não morrer. Estamos juntos e prosseguiremos juntos à vitória. Gratidão. Jorge Luiz

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  14. Caro Alexandre, é com alegria na alma que sedento m8nha sede de boas reflexões acerca do nosso existir sobretudo nestes dias conflituosos de nossa existência. Seu texto é um bálsamo de esperança para dias nublados e as referências usadas me faz acreditar que viver nestes tempos é um ato de coragem. Sou grata! Continue nos regando com seus artigos. eurile

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  15. Caro Alexandre, é com alegria na alma que sedento minha sede de boas reflexões acerca do nosso existir sobretudo nestes dias conflituosos de nossa existência. Seu texto é um bálsamo de esperança para dias nublados e as referências usadas me faz acreditar que viver nestes tempos é um ato de coragem. Sou grata! Continue nos regando com seus artigos. Eurilene

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  16. Alexandre, seu texto é de muita lucidez. Nossa realidade histórica foi construída a base do chicote. Ainda hoje as chamadas minorias, que não são minorias, vivem no submundo. Há uma necessidade premente para sairmos do discurso e partirmos para execução da prática transformadora. Hoje o Brasil descobriu que em torno de 40% da nossa população votante, comunga com a casa grande. Precisamos cada vez mais de pessoas como você.

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  17. Eis um descrever mais profundo e de caráter preocupante, pois as atrocidades aqui elucidadas, ora de dantes e as do presente, muito nos preocupa por estarmos ainda bastante modesto em resistirmos essas barbaridades. Parabéns Alexandre Júnior, pela excelente material, nos honra como escritor e protagonista da nossa história 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏

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