Por Roberto Caldas
Impressiona como alguns testes são de difícil ultrapassagem. A insatisfação diante de uma situação de contenda é um desses testes que desgasta muitas possibilidades de entendimento. O terreno das emoções é um fio vibrátil que conduz eletricidade em fluxo constante. As descargas intempestivas derivadas de momentos de plena inquietação repercute no corpo e na alma do emitente e pode produzir desorganização em quem a recebe.
Diante de questões que reverberam posturas díspares é muito comum o ímpeto de querer obter dianteira sobre a versão que exiba sinais divergentes daquela que é previamente aceita. O ensejo de vencer uma discussão nada tem de errado, desde que os lados se permitam o espaço adequado para as preliminares que proponham, antes do conflito, a possibilidade do entendimento.
Esse um teste de difícil ultrapassagem. A humanidade se encontra em tal nível de divisão que uma reflexão apressada diria tratar-se de um problema sem solução. Basta uma viagem pelas diversas mídias para se identificar a crise humana, cuja maior vacilação é o afastamento das rotas de tolerância e serenidade.
Há de se questionar, de forma honesta, como responder com tolerância ao intolerável e com serenidade ao que se define como inquietante? Essa a barreira a ser vencida. Como fugir do arrasto de determinadas forças, sem se deixar contaminar por elas e assim aproveitar a oportunidade de trazer solução ao problema – esse é o desafio.
A tolerância e a serenidade, virtudes de raro cultivo, fundamentam-se na arte do saber ouvir e calar no devido momento, binômio que fabrica milagres na resolução de conflitos. Exatamente nesse teste que a maioria sucumbe. O contrário dessa prática é exatamente a razão que produz o campo de guerra, no qual a sociedade se tornou. Quando se deixa de escutar não há como saber das necessidades que movem aquele que é julgado oponente e o falar sem a escuta transparece apenas o que lhe deve ser imposto.
A humanidade combate alheia aos reais sentimentos que produzem as mudanças que tanto se pretende. É certo que ninguém deseja o mal para si mesmo, mas intentar o mal aos demais não assegura a conquista do bem para si mesmo.
Os grandes conquistadores foram aqueles que suportaram a injúria sem injuriar, não obstante combatessem a injúria em sua estrutura equivocada. As grandes lutas não foram aquelas em que o sangue do outro foi derramado em campos de batalha. As almas vencedoras não tiveram receio de parecer covardes porque deixaram de responder a violência com violência igual, pois sabiam que só os covardes é que são violentos. Os corajosos são aqueles que estiram a mão para superar o conflito.
Jesus, com serenidade e tolerância, ensinou a depor as armas que machucam ao semelhante, ao ensinar ao Pedro que há em todos nós que era necessário “embainhar a espada, pois quem com a espada fere, com ela será ferido”.
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