Por Roberto Caldas
O ambiente de nascedouro do Espiritismo pode ser considerado um dos mais polêmicos na história da humanidade. Basta consultar o desfile de pensadores, filósofos e influenciadores do pensamento que viveram e produziram as suas obras naquela época.
A divulgação das ideias iluministas, das teorias econômicas, dos ideais pós revolucionários, o ataque ao pensamento religioso, em contraste ao poderio ainda importante do poder clerical. Todas essas condições eram testes de difícil enfrentamento.
De certa forma havia um clima de arraigada vinculação à crença dogmática defendida pelas cúpulas religiosas recém-saídas do período de Inquisição misturada à proliferação das doutrinas que propagavam o ateísmo e o materialismo.
Enfrentar essa paisagem conflituosa e crítica terá sido experiência que acabou por legitimar a Doutrina Espírita em sua qualidade de pensamento iluminador que atravessa os séculos sem temor de enfrentar os desafios dos tempos atuais.
É certo que, passados 165 anos daqueles primeiros embates, os princípios espíritas apesar de despertarem curiosidade e ainda serem ignorados por muitas pessoas, encontram eco em grandes partes dos institutos humanos. Certamente não deixaram de ter o caráter polêmico se avaliados por pontos de vista remanescentes de algumas posturas religiosas e grupos científicos.
Allan Kardec não se incomodava com o fato de viver cercado de polêmicas. Dedicou a Revista Espírita como espaço mais próprio para campo de discutir as controvérsias. Declaradamente não perdia tempo com as discussões em torno de opiniões pusilânimes, mal intencionadas, mentirosas e levianas. Concentrava-se nas questões sérias e valorizava os debatedores que demonstravam apreço ao estudo, aos quais julgava peças importantes no aprofundamento da teoria espírita.
É de sua lavra a frase contida na revista Espírita de novembro/1858: “existe polemica e polemica. Existe aquela ante a qual jamais recuaremos: é a discussão séria dos princípios que professamos”.
Na convivência num mundo cada vez mais polêmico, como se mostram os tempos atuais, os herdeiros do legado de Allan Kardec, sempre que chamados a encarar as circunstâncias do mundo que os envolve, precisam reiterar a determinação do Codificador, quando for necessário utilizar os princípios doutrinários na compreensão dos fatos.
Concentrar o pensamento nas discussões de linguagem elevada. Descartar a preguiça de estudar e aprender. Evitar ataques verbais ao debater. Refletir na relevância de tema a ser considerado. Opinar com conhecimento de causa.
O aprendiz do Espiritismo jamais saberá tanto que não tenha algo por aprender. E a humildade em se permitir aprender é a chave da transformação necessária a todo aquele que busca antes de tudo a sua auto-iluminação.
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