Por Ana Cláudia Laurindo
Com todo carinho mantido pelas experiências vividas nos centros espíritas por onde passei, tenha sido como ouvinte, estudante, passista ou palestrante, mesmo quando envolvida em ações sociais externas, foi necessário vivenciar também momentos de afastamentos destas casas.
Foi preciso expandir o olhar e sentir o toque da vida dispersa em cada recanto, para entender que nunca sair é uma forma de negar o que acontece fora. E vi que também acontecem coisas boas. Pude analisar com menos paixão e abraçar com vigor o Espiritismo que aponta vitórias não somente sobre o vácuo deixado pela morte física, mas também por sobre as fortes amarras dos dogmas de fé.
Foi do lado de fora dos centros espíritas que me tornei espírita com autonomia de pensamento, dialogando com o espírito do meu tempo.
Aqui estou em instantes de retorno, visitando ambientes onde as ritualísticas negadas continuam acontecendo como se não fossem ritos, mas não me apego a esta crítica e aceito a proximidade carinhosa dos espíritos com gratidão.
A inteligência dialógica é uma conquista. O esforço é parte da minha resistência em amar o outro da forma que é, porque não tem sido fácil aceitar ficar próximo de quem usa tribunas espíritas para defender o Brasil tenebroso que escureceu tantas mentes, inclusive a de médiuns, nos tempos que começam a passar.
Virtude não é aparência. Aceito a amargura e a indignação como partes dos processos que nos levarão a evoluir, por isso não mascaro essa tristeza. Importa não imobilizar o verbo.
Abro as mãos para receber o passe como demonstração de confiança nos desencarnados e até nos encarnados, porque chegou a hora de retornar. Essa passagem interna aos poucos está sendo aberta, porque o intuito do nosso trabalho não é o mero julgar. Colaborar amorosamente é uma política existencial.
Entre os seres nos vemos sendo.
Em nenhum momento rompi com a identidade de mulher espírita que alimenta convicções na luta por uma morada mais feliz. Esta casa grande e social que nos acolheu o corpo e possibilita fortalecer o intelecto se chama coletividade, o quebra-cabeças que mais revelou a face de Deus aos homens, mulheres e demais gêneros.
Não poderei conhecer apenas visitando livros, e a reaproximação com outras comunidades espíritas trará a seiva que alimentará a escrita, porque somos partes da mesma história neste tempo de recomeços.
Assim creio.
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