Por Roberto Caldas
Esse texto inicia com um pedido de desculpas. A palavra que o intitula não existe enquanto vocábulo. Inútil buscá-la nos dicionários. Na verdade o intento dessa firula linguística é chamar a atenção para o fenômeno de envelhecimento humano na trilha do amadurecimento e da conquista da serenidade.
Desde já se pode lamentar que tal fenômeno seja condição de raro vislumbre e não é visto na mesma proporção em que se dá a passagem dos anos. Infelizmente a regra parece ser envelhecer-se sem amadurescência. O alcance dessa possibilidade não se dá apenas com o avançar do embranquecer dos cabelos. O grande filósofo, orador e político romano, Cícero (106 a 43 AC), admitia na sua velhice que havia trocado a pujança, a beleza, a força pela sabedoria (Livro: A Arte de Envelhecer).
Aprender a utilizar os óculos da maturidade não é uma aquisição mágica. Quem se tornou especializado em responder ás provocações do mundo apenas reativamente, dente por dente, bateu levou, provavelmente vai passar para a senescência com respostas igualmente infantilizadas. A prática de qualquer atitude se torna hábito e modula o comportamento.
Considerada a hipótese do desencarne precoce como única forma de evitar-se o envelhecimento é razoável que a maioria das pessoas prefira o caminho da longevidade. Essa opção indica a necessidade de renunciar à ambição da juventude perene, visto que o organismo aponta para a obrigatória perda da vitalidade. O processo paulatino é pedagógico ambiente para o aprendizado de formas de adaptação às perdas progressivas.
Assim com as crianças acabam aprendendo com a observação dos adultos do seu entorno, à medida que avança na faixa etária o adulto que ultrapassa as raias da juventude e alcança o período da terceira idade bem que poderia enriquecer as suas possibilidades com a experiências positivas e malfadadas daqueles que o antecederam nessa viagem inevitável.
Enquanto não se consiga lucidez suficiente para selar o aprendizado será muito comum testemunharmos verdadeiras crianças travestidos de corpos envelhecidos, cheios de dúvidas, ressentimentos, incapacidade de perdoar os fatos da vida e reagindo com impaciência e raiva diante de situações absolutamente simples de resolver. Talvez porque não tenham alimentado a visão do diálogo, ou julgue que não tem mais tempo de refletir e mudar diante de novas experiências.
A sabedoria e a serenidade são ferramentas gêmeas na concretização de uma renovada avaliação do mundo e servem de alicerce para alterar os padrões de impaciência e pressa na resolução dos problemas.
Aquele que viveu mais tempo correu o risco de ter errado e acertado mais que os mais jovens. A amadurescência é exatamente a disposição de revelar novas perspectivas diante das situações que aprisionam a mente dos menos experientes, sem lhes exigir os valores que só o tempo vivido é capaz de produzir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário