Por Ana Cláudia Laurindo
Divaldo Franco poderia falar somente de temas neutros? Sim! Mas porque não o faz? Porque tem o desejo da visibilidade política.
Isso é ruim? A priori, não. O desejo da participação política é normal, deve até ser incentivado. O desgaste causado pelas aparições de Divaldo Franco nas redes sociais se deve ao teor daquilo que expõe.
Qualquer palestrante tem a obrigação de conhecer minimamente sobre um tema, antes de discorrer sobre ele.
Mas o médium se acredita qualificado para explicar qualquer situação, e cai nas ciladas da era das fake news, como o dia que envolveu “marxismo cultural e ideologia de gênero” em uma fala repleta de ignorâncias, obscurantismos e descrédito.
É preciso admitir que sua formação não contempla sociologia, antropologia e ciências políticas!
Para escrever e falar sobre os fenômenos pertencentes a estes territórios históricos, sociais e culturais, se faz necessário leitura, pesquisa, ciência.
Não é de achismo que se orienta um grande público, principalmente em tempos de volatilidade da informação, onde a mentira luta para ocupar o lugar da verdade, porque sim.
Depois de tentar justificar o golpismo de 08 de janeiro de 2023, defendendo os infratores da constituição brasileira sob um verniz ordeiro que não respinga convencimento em ninguém mais, o aprofundar do discurso faz com que cometa grave crime de etnocentrismo, convidando indígenas a não lutarem por suas terras e se deixarem (mais uma vez na história) aculturar pelos colonizadores, os seus algozes.
Responsabiliza a infertilidade da floresta pela fome dos povos yanomami, bem no tom que garimpeiros e madeireiros gostam. Pois os bilhões recolhidos aos cofres de alguns, por causa do ouro pilhado da Amazônia, azucrinam mentes e corações, buscando narrativas para matar sem culpa e fazer sofrer quem defende a vida.
A violação das jovens, as concepções via estupro, de mais de trinta adolescentes destes povos, será também responsabilidade da floresta?
A draga sugadora de corpos infantis, o envenenamento das águas, derrubada das árvores, silenciamento dos documentos formais emitidos em busca de socorro, passam pelos discursos de Divaldo?
Esta postura frontal contra a razão e as políticas do governo petista vai levar o médium até onde?
Tenho discordado de alguns posicionamentos que tratam estas manifestações como mera liberdade de expressão individual. Não se tratando de Divaldo Franco, que por mais que alguns tentem não validar, se tornou referência espírita para milhares.
Assim percebemos que estes erros de Divaldo respingam no movimento espírita hegemônico, que no Brasil é uma grande igreja repartida em células pontuais. E mesmo não fazendo parte deste grupo, como cidadã brasileira e espírita progressista faço questão de pontuar a crítica no desejo sincero de vê-lo melhorar.
Declarações intolerantes de Divaldo já desencadearam movimentos de repúdio em setores religiosos não-cristãos, espiritualistas, que sentem nas referências aos Pretos Velhos o racismo amorfo que desagrada e desagrega.
Homofóbicos, racistas e etnocêntricos, conseguem mesmo falar de amor?
Os responsáveis por estas aparições podem aproveitar a deixa e buscarem formação também, quem sabe, assim, um movimento evolutivo marcado pelo conhecimento fará florescer fé e obras, em vivências raciocinadas e transcendentais?
Assim desejamos.
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