Por Ana Claudia Laurindo
Será que os códigos gráficos serão descartados e a vida real será tomada pela força da oralidade e da imagem em movimento?
Questões interessantes são trazidas com ênfase e determinismo. Mas aqui não aceitamos o descarte da análise.
Outro dia o deputado Eduardo Bolsonaro cometeu publicamente um crime de preconceito contra favelas, comunidades, complexos populacionais urbanos, para afetar o ministro da Justiça, Flávio Dino, que em uma ação ousada (até mesmo pelo cargo que ocupa e importância política que possui) adentrou o Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, com irrisório aparato de segurança.
Eduardo, um político intelectualmente afetado pelas convicções de extrema direita e habituado a utilizar estratégias de desinformação como mecanismo de poder, criminalizou o território para associar Dino à bandidagem, palavreado que lhe dá gosto utilizar.
A partir desta atitude, se manteve na crista das ondas cibernéticas, entre fluxos de amor e ódio, monopolizando a alquimia ideológica dessa era.
Como homem público eleito para representar interesses de uma unidade da federação na maior casa legislativa do país, em tese, estaria sujeito aos códigos que direcionam fazeres, afinal, está entre aqueles que recebem dinheiro público para legislar, e o foco da representatividade de cunho partidário deveria ser o povo, de modo particular aquela camada populacional que convive com as dificuldades socioeconômicas que caracteriza uma comunidade como a Maré.
Mas a certeza da impunidade infla discursos como os de Eduardo Bolsonaro, que prioriza a pauta midiática como elemento de poder.
O jargão “falem mal, mas falem de mim” é a mola mestra do engajamento nas redes sociais.
Até que ponto as tribunas mais bem pagas do país serão utilizadas para isto abertamente?
Chegamos então ao ponto que interessa: as redes sociais podem ser mais importantes que as leis de um país?
As redes sociais podem moldar comportamentos ao ponto de nada mais importar fora delas?
Afirmar oficialmente enquanto deputado federal que o ministro da Justiça entrou em uma comunidade porque está envolvido com o tráfico de drogas, não deveria trazer algum tipo de responsabilização?
Mas, ao contrário, reverte em cliks.
Se as redes sociais vivem de narrativas e mostram a força política de quem pauta o debate, isso por si, já não nos alerta sobre como agir?
A contemporaneidade é o maior desafio da vida em sociedade, pois de bolha em bolha, todas as existências correm o risco de serem engolidas pela desinformação, através do jogo espúrio que a extrema direita aprendeu a manobrar.
Precisamos interpretar as narrativas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário