Mães com filhos assassinados pela polícia lançam livro com 23 relatos |
Por Ana Cláudia Laurindo
Esse Dia amorfo, pintado de rosa esconde o vermelho derramado pelas estradas das nossas vidas.
Todo respeito fingido desemboca em nossos braços na forma compacta de presentes materiais, elogios rasgados demais para quem luta por justiça na terra da desigualdade.
Dia das Mães não serve para nós, mulheres feridas de morte, enlutadas na alma!
Essa mentira ofende os 364 dias de silenciamento que vocês nos impõem.
Dia de solidão mais intensa, na mesa das que lutam por voz, tendo como amparo uma foto qualquer de um dia feliz que se foi.
Da justiça negada à perpetuação da violenta saga, vocês nos tornaram desagradáveis, porque em nossas rugas a realidade recusa maquiagem.
Vocês são uma patifaria perfumada!
Nos impedem de odiar o odioso.
Nos induzem a aceitar render graças à estrutura imexível da política mórbida que mata.
Vocês são a antítese da honra e da plenitude. São os cordeirinhos servis ao lobo, quando convém se vestir de branco.
Nós somos as dores desgarradas, chorando separadas, morrendo como alívio!
Vocês seguem nos querendo sagradas para continuar matando os nossos filhos.
Dejetos!
Para nós todos os dias são Dia das Mães sobreviverem um minuto mais, lutando contra os males que vocês nos geram.
Nossas relações com as flores brotam em outras primaveras.
Hoje eu cuspo no chão hipócrita da conveniência que serve ao poder. Esse é o meu presente, negar você! Recusar te ver! Sistema podre e visceral, ninho do mal.
Agora posso viver mais um dia apesar de você!
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