Por Doris Gandres
É pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a Humanidade.” Allan Kardec – Obras Póstumas, Credo Espírita (2)
“Todo mundo fala da importância da educação, mas, para a maioria, esta palavra tem um significado extremamente vago, porque poucas pessoas chegaram a fazer uma ideia precisa de tudo o que ela abarca (...) A educação é a arte de formar os homens, isto é, a arte de fazer eclodir neles os germes da virtude e abafar os do vício (...) Numa palavra, a meta da educação consiste no desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais.” (1)
Para entender o que o ainda Prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail afirma, precisamos primeiramente distinguir INSTRUÇÃO e EDUCAÇÃO: instrução é transmissão de conhecimento de forma geral, aquisição de cultura; educação é muito mais do que simplesmente acumular dados – educação é ensinar a utilizar adequada e beneficamente todo conhecimento adquirido.
E o mesmo mestre, já então como Allan Kardec, esclarece: “o progresso individual não consiste apenas no desenvolvimento da inteligência, na aquisição de alguns conhecimentos (...) o progresso consiste, sobretudo, no melhoramento moral (...) muito mal pode fazer o homem de inteligência mais cultivada” (2). Basta lembrar o que fizemos inicialmente com a descoberta da energia nuclear, da fissura do átomo etc etc – bomba atômica e tantos outros artefatos de destruição...
Assim, vemos personalidades de inúmeras cátedras e campos de conhecimento intelectual avançado envolvidas nos mais tenebrosos e inacreditáveis atos de desumanidade e de desrespeito aos direitos humanos, às leis naturais, principalmente a de justiça, amor e caridade, base fundamental ao relacionamento particular e social em qualquer escala.
Séculos antes de existência de Jesus de Nazaré entre nós, um conhecido sábio da antiguidade, Pitágoras, já recomendava: “vamos educar o menino para não punir o homem”; mais tarde, o irmão nazareno aconselhava: “faz ao outro o que queres que o outro te faça”; contudo, ainda agora não conseguimos aplicar essas recomendações tão claras e lúcidas. Priorizamos a punição, muitas vezes até arbitrária, superlotando de forma desumana e brutal os presídios, relegando a educação, tanto dos que têm acesso à instrução quanto dos que não têm, praticamente ao esquecimento. Ao analisarmos com imparcialidade as diversas situações em nossa vida, na dos que nos cercam e ainda na daqueles desconhecidos, cujas vidas são de interesse público, certamente conseguiremos perceber os comportamentos equivocados e as escolhas desastrosas que a falta de educação gerou.
Mas o que é essa educação? Como educar para ajudar a progredir como ser integral?
Espíritas que somos, já sabemos que toda criança que chega ao nosso convívio familiar é um espírito retornando para mais uma etapa reencarnatória evolutiva, com seu acervo e sua programação; já sabemos igualmente que, ao recebê-la, assumimos a responsabilidade de lhe oferecer o amor, o apoio e o esclarecimento necessários para seu crescimento físico, moral e espiritual, ajudando-a a se tornar uma criatura fraterna, justa e produtiva.
Nossa atuação começa muito cedo – na verdade antes mesmo da reencarnação; a proximidade psíquica e física daquele serzinho particularmente com a mãe proporciona oportunidade ímpar para o seu desenvolvimento equilibrado, ou não, dependendo de circunstâncias próprias aos envolvidos. A seguir, durante toda a infância e a adolescência, cabe aos responsáveis junto àquela criatura, sejam quem forem, atento acompanhamento do seu despertar, principalmente quanto às tendências e faculdades que já traz consigo.
Além disso, não podemos nunca esquecer que o nosso exemplo individual é fator preponderante na educação, mesmo naquilo que possamos considerar “trivial” – exemplo: ao toque do telefone, tratando-se de alguém com quem não queremos falar naquele momento, dizer: “fala que eu não estou”. Estaremos ensinando a criança a mentir...
“Educar é, pois, elevar, estimular a busca da perfeição, despertar a consciência, facilitar o progresso integral do ser (...) O que se entende muitas vezes por educação é apenas o processo de integração da criança na sociedade, ou seja, é sinônimo de socialização (...) O homem se torna apenas o produto acabado de uma determinada cultura e de todas as suas mazelas sociais (...) Evidentemente, a educação tem um aspecto socializador, mas deve significar: 1) familiarizar a criança com a cultura e a organização social em que está inserida, desenvolvendo sua capacidade crítica, sua criatividade e sua autonomia de pensamento; 2) despertar na criança o sentido de justiça, solidariedade e amor ao próximo, porque esses são os valores essenciais para a formação de uma sociedade justa” (3).
É imperativo atentar para o fato de que, uma educação e uma socialização equivocadas, dentro de conceitos egoísticos, de competição e de supremacia atualmente tão em uso, comumente suplantam os sentimentos fraternos e solidários que deveriam ser superiores aos anseios sensuais e materiais a serem fruídos a qualquer custo, fazendo-nos muitas vezes contribuir para retardar o progresso de um companheiro de jornada.
Hermógenes, um mestre em ioga, dizia “não devemos procurar ser melhores do que os outros, mas melhores para os outros.
(1) Textos Pedagógicos – Hippolyte Léon Denizard Rivail (por Dora Incontri)
(2) Obras Póstumas – Credo Espírita – Allan Kardec
(3) A Educação Segundo o Espiritismo – Dora Incontri
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