Por Ana Cláudia Laurindo
A laicidade do estado brasileiro não sido parâmetro com força suficiente para garantir a não influência religiosa dentro das políticas e dos espaços públicos de maneira geral, desde escolas, judiciário e todos os outros territórios institucionais que expõem crucifixos, pois a associação da fé cristã a uma ideia de assepsia moral nunca cedeu um milímetro para os pressupostos legais da laicidade.
Neste contexto, a polícia cristã não é vista como algo que quebre um parâmetro legal porque na prática ele não existe.
Este envolvimento pode até ser compreendido como positivo pela sociedade. A Igreja Universal é um negócio da fé e não arrisca investimento aleatoriamente, mas, ao contrário, age com estratégia.
O estado deveria barrar qualquer interação direcionada a vivência religiosa em seus espaços, mas isso só aconteceria se a laicidade fosse de fato, respeitada. Mas como fará isso com a investida evangélica se há séculos tem permitido a ação católica em ritos e acessórios?
O estado também se beneficia politicamente do resultado destas relações, enfatizando sutilmente a valoração de fenômenos morais para além dos legais, porque assim fica mais fácil manobrar o pensamento das massas, coagir e direcionar comoções, e neste ponto, surge o perigo da aproximação com narrativas ligadas ao fascismo.
Qual será o interesse que predominará? Enquanto instituição o Estado também faz escolhas.
Então, homens e mulheres fardados recebendo bençãos antes e durante o trabalho pode ser uma influência negativa do exercício do agente de segurança?
Não diria que influencie de forma “negativa”, mas que no atual contexto político e ideológico a ação fortalece uma representação de poder autoritária, e esta não é positiva para a democracia. O segmento policial brasileiro não deve ser guiado por fenômenos moralizantes, não temos uma teocracia. Daí vem a necessidade de se cobrar do estado um posicionamento “laico” como medida racional na defesa dos princípios democráticos, acima das escolhas individuais dos agentes de segurança pública.
Agentes de segurança pública, de modo geral, possuem códigos internos que sugerem isenção de questões de caráter político e ideológico, assim como faz parte da formação militar o respeito aos códigos legais. Não podem ser vistos nem tratados como um poder à parte, pois são aparelhados para o serviço de segurança e como contingente armado não devem se tornar risco de nenhum porte para os cidadãos do próprio país. Neste caso, bastaria a lei para ser cumprida para alinhar os militares à missão pública que possuem. O governo, em tese, não precisaria fazer nada em especial para se aproximar destes servidores públicos, mas ter com eles uma relação assertiva no caráter que lhes é próprio institucionalmente.
Igreja é espaço para vivência religiosa e comunitária. Assim como o são os terreiros, mesquitas, etc. Ao Estado cabe o a elaboração e o cumprimento de ações políticas, principalmente as de caráter social, que mais aproximam cidadãos e instituições. Em uma democracia não há necessidade de polícia religiosa, e seria de ótimo tom uma formação cidadã ecumênica, humanitária, capaz de desenvolver e fundamentar uma consciência societária capaz de não admitir violências do Estado para com os cidadãos em hipótese alguma.
Não podemos aceitar que o Estado alimente qualquer possibilidade de existência de um exército formado por cristãos armados, pagos com dinheiro público. Policiais devem escolher suas vivências de fé no âmbito da individualidade, como qualquer outro servidor público.
Muito bom, também tenho um blog sobre espiritualidade, convido vocês a darem uma olhada: https://dev-consciencia-astral.pantheonsite.io/
ResponderExcluirGratidão