Por Francisco Cajazeiras (in memoriam)
Naquela manhã de sábado, no dia 18 de abril de 1857, vinha a lume a obra primeira e síntese da nova Doutrina que raiava para o mundo: "O LIVRO DOS ESPÍRITOS". Com ela se dava cumprimento à promessa feita por Jesus, anotada no Evangelho de João, do envio de um outro consolador que se faria permanente entre os seres humanos e, também, brilhava o alvorecer de uma nova era para a Humanidade.
O Prof. Denizard Hippolyte Léon Rivail, sábio e pedagogo francês, que dedicara sua vida à Educação dentro de uma nova abordagem – a de seu mestre Pestallozzi -, fora convidado a analisar de perto à mais recente, intrigante e curiosa prática que se estendia pelo mundo, oriunda – pensava-se, à época – dos Estados Unidos da América: as designadas “mesas girantes ou dançantes ou falantes”. O fenômenos caracterizavam-se por movimentos daqueles instrumentos, quando da presença de certas pessoas. Além disso, era possível manter-se uma comunicação com essas “mesas”, que respondiam a perguntas formuladas pelos presentes, através de um número de pancadas previamente convencionado.
Após observação e análise racional, o referido sábio percebeu algo de sério naquelas manifestações aparentemente pueris e, então, usadas como divertimento. Aplicando o método científico, o Prof. Rivail, 51 anos, fez uma importante descoberta que permitia conhecer novas leis, regentes da vida que se expande para o transcendental, permitindo a compreensão das relações entre “vivos” e “mortos”, ou melhor, entre Espíritos encarnados e desencarnados.
Foi com base nessas pesquisas e observações meticulosas, amparadas por uma metodologia consentânea ao pensamento científico contemporâneo, que o mestre lionês recebeu a informação de que era de sua responsabilidade missionária a organização e a publicação, de forma esclarecedora e acessível para todas as pessoas.
Naquela manhã primaveril, ao receber do Sr. Dentu, um pacote com alguns exemplares de O Livro dos Espíritos, o Prof. Rivail, agora Allan Kardec (nome por ele escolhido para assinar, como encarnado, a obra que organizara), via materializar-se o primeiro passo na direção daquilo que lhe competia, no dizer do Espírito da Verdade e dos Espíritos Superiores que lhe constituíam a falange iluminada.
O Livro dos Espíritos, em sua edição primeira, apresentado na forma da Filosofia Clássica, continha 501 questões e objetivava, no primeiro momento, impactar a sociedade e o mundo voltados para aqueles fenômenos, proporcionando-lhes um despertar para o seu verdadeiro significado. Depois, com o devido tempo e com um trabalho mais amplo e universal, facilitado pela criação e fundação da Revista Espírita (órgão de divulgação e fórum de discussões universais) e da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (instituição de caráter científico onde se promoviam o estudo e as pesquisas dos fenômenos psíquicos), dar-se-ia sua revisão e ampliação, como anteviram os Espíritos Reveladores, o que se deu a 16 de março de 1860.
O Livro dos Espíritos é uma obra de profunda relevância para o ser humano, fazendo luz para um entendimento mais dilatado das grandes questões filosóficas, dúvidas e incertezas, acerca da vida e da morte, assim como, das profundas diferenças intelectuais e morais, sociais e culturais presentes no mundo.
Quando comemoramos o seu 157º aniversário, mais e mais vemos consolidarem-se suas considerações e ensinamentos elucidativos no que respeita às nossas graves dificuldades e problemas do cotidiano, sua orientação quanto às suas soluções e a sua incrível atualidade.
O século XX herdou do anterior a empáfia e a empolgação de tudo resolver com o saber das coisas, de tal modo a exterminar o pensamento religioso na face planetária por entendê-lo como criação da mente para aliviar suas próprias angústias e aflições existenciais e aproveitado pelos poderosos para o domínio das grandes massas dos desfavorecidos. Mas, embora o vertiginoso e imenso progresso do conhecimento científico e consequente maior domínio e comodidades no dia-a-dia terrenos, a criatura humana continua aflita, ansiosa e desesperançada quanto ao seu futuro. O advento da física quântica desconstruiu, de alguma forma aquelas certezas baseadas na física clássica.
Há, como de costume, em um orbe de vaidades e pretensões personalistas, os que entendem que O Livro dos Espíritos encontra-se defasado, ultrapassado e carente de revisões e atualizações.
Mas será, mesmo? O que e onde a ciência demonstrou estar em erro a Doutrina Espírita?
Compreendamos que uma Doutrina é uma organização, um conjunto de fundamentos, de princípios. Allan Kardec teve o bom senso e o cuidado de buscar a universalidade do ensino dos Espíritos, o que lhe foi possível dada a sua genialidade, o cruzamento de informações nas mais diversas regiões planetárias e a independência e autonomia desses grupos.
Apesar do fulgurante progresso científico, o edifício doutrinário não sofreu nem o mais mínimo abalo e, bem pelo contrário, até tem saído referendado e ratificado, a despeito do desdém, da má vontade e do desconhecimento dos cientistas em geral.
O Espiritismo, é claro, não está em busca da ratificação ou da aprovação de seus postulados pelos cientistas, até porque tem plena consciência de que integra o conhecimento como um todo e concebe tudo proceder de uma lei universal e única, desdobrada em nuanças e aspectos diferentes.
Vejamos, porém, que vários são os cientistas que passaram a manifestar visões que muito se aproximam dos princípios espíritas, de certa forma referendando-os, sem a intenção e sem o saberem, no mais das vezes.
Deus é sentido e pensado pelo Espiritismo de uma maneira bem diversa daquela como era apresentado pelas religiões tradicionais: nem como um ser antropomórfico nem como uma visão metafísica que lhe confunde e esconde com sua obra. Por isso, muitos dos opositores da Doutrina chegam a taxar de ateus os espíritas.
De Einstein a Paul Davies, há uma noção da existência de uma Ordem Maior, para além da possibilidade de estudos pela Ciência, dentro dos paradigmas atuais. Davies chega a afirmar:
“Meu trabalho científico levou-me a acreditar que a constituição do universo físico atesta um engenho tão assombroso que não posso aceitá-lo apenas como um fato bruto. Parece-me que deve haver um nível mais profundo de explicação. Querer chamar esse nível mais profundo de ‘Deus’ é uma questão de gosto e definição.”
Quanto à realidade do Espírito exarada em O Livro dos Espíritos, como o verdadeiro Eu e único responsável prela manifestação da vida inteligente, vemos filósofos e neurocientistas defenderem uma “consciência” independente e sobrevivente ao cérebro. Dentre eles destacamos Karl Popper , John Eccles e Mario Beauregard .
A mediunidade demonstrada cientificamente por Allan Kardec e tantos outros cientistas seus contemporâneos e futuros, desde meados do século XX, vem sendo estudada por inúmeros pesquisadores, notadamente europeus.
A informação dos Espíritos sobre a existência de um corpo fluídico, energético, na intermediação do ser espiritual com o corpo físico, também tem encontrado, nos estudos e pesquisas de cientistas, hipóteses e teorias que se lhe aproximam, como por exemplo os “campos morfogenéticos” propostos por Rupert Sheldrake .
A reencarnação tem sido estudada por cientistas do quilate do Dr. Ian Stevenson, que se dedicou a estudos nesse sentido por mais de quarenta anos, tendo catalogado e analisado mais de 2.700 casos de crianças que se lembravam espontaneamente de terem vivido existências anteriores.
Atualmente, com grande frequência, encontramos na mídia notícias sobre descobertas feitas por astrofísicos de planetas semelhantes à Terra e, por consequência, com grandes potenciais para abrigarem vida inteligência como a nossa. Assim, a ideia da “pluralidade dos mundos habitados” cada vez mais é compartilhadas por membros destacáveis das ciências.
A fé, a prece, as curas espirituais, as relações entre a espiritualidade e a saúde, tudo isso tem sido motivo de estudos e pesquisas promissores nas academias científicas.
Por outro lado, a obra primeira da Doutrina Espírita alenta-nos e alerta-nos para a busca da transformação moral, em contraposição às filosofias materialistas, niilistas e relativistas, estimulando-nos à construção de uma ética sintônica com o Evangelho de Jesus e capaz de estabelecer definitivamente a paz, a fraternidade e o amor no planeta.
Aproveitemos o aniversário de O Livro dos Espíritos para procedermos a uma revisão, sim, mas uma revisão do que temos realizado com o conhecimento que proporciona: do que temos semeado de suas páginas luminosas e do que temos investido de tempo para o seu estudo sério.
A gratidão e a humildade são virtudes ainda pouco vivenciadas em nosso acanhado mundo, mas que já vêm sendo analisadas por muitos pesquisadores do comportamento e dos sentimentos, com tendência a demonstrar sua importância para a saúde integral e o bem-estar psíquico.
Sejamos, então, gratos e reconhecidos ao Codificador, ao Espírito da Verdade e à sua luminosa falange, bem como à Providência Divina pela dádiva de O Livro dos Espíritos, neste dia em que comemoramos o seu aniversário de cento e cinquenta e sete anos.
[1] Cientista de origem germânica, criador da Teoria da Relatividade e considerado um dos pais da Física Quântica.
[1] Físico inglês, pesquisador universitário na Austrália, autor de livros como A Mente de Deus.
[1] A Mente de Deus.
[1] Filósofo da ciência, austríaco, autor de O Eu e seu Cérebro.
[1] Neurofisiologista australiano, autor de Cérebro e Consciência; prêmio Nobel de Medicina, em 1963.
[1] Neurociientista canadense, pesquisador da Universidade de Montreal, autor do livro O Cérebro Espiritual.
[1] Biólogo e bioquímico inglês, pesquisador e escritor
¹ publicado, originalmente, em 18.04.2014
Brilhante texto
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