Por Doris Gandres
Na remota Antiguidade, na Grécia, a chegada da primavera era comemorada em homenagem a Reia, a Mãe dos Deuses. Séculos depois, nos inícios do século XX, em 1908, em Grafton, Virginia Ocidental, USA, Anna Jarvis, para homenagear sua mãe, Ann Jarvis, que realizava trabalho social com outras mães, sobretudo durante a guerra civil norte americana; e foi também Anna quem escolheu o segundo domingo de maio por ser a data de aniversário do desenlace de sua mãe.
No Brasil, a primeira comemoração do dia das mães deu-se em 12 de maio de 1918, em Porto Alegre/RS, pela Associação Cristã de Moços de Porto Alegre. Em 1932, Getúlio Vargas decretou o segundo domingo de maio como o dia das mães em todo país, o que também foi adotado pela igreja católica.
O que aconteceu no decorrer dos anos, entretanto, foi que tal data – inicialmente envolvida em carinho, reconhecimento e simplicidade, ao desenvolver-se a indústria e o comércio e outros tantos interesses das gananciosas esferas dominantes, tanto financeiras, quanto políticas e religiosas, e o subsequente capitalismo cada vez mais alastrado, do incentivo cada vez maior ao consumo em qualquer instância – transformou-se numa corrida tresloucada às lojas na ânsia de um presente qualquer possível, em geral de última hora...
Contudo e apesar de tudo, desde hoje pela manhã, durante a minha caminhada, minha reflexão foi sobre as mães em geral e na minha maneira de me dirigir a elas:
PARABÉNS MÃES BRANCAS, PETRAS, PARDAS, INDÍGENAS, ASIÁTICAS E AFRICANAS DE TANTAS NAÇÕES, MÃES DE NORTE A SUL, LESTE A OESTE DO PLANETA.
PARABÉNS ÀS MÃES SOLO; ÀS MÃES ADOLESCENTES; ÀS MÃES HOMO, TRANS E TAIS; ÀS MÃES DEDICADAS E ÀS QUE ABANDONARAM A TAREFA POR QUALQUER RAZÃO QUE SEJA; ÀS MÃES QUE POR UM MOTIVO OU OUTRO NÃO LEVARAM SUA GRAVIDEZ A TERMO MAS QUE, AINDA ASSIM, POR UM TEMPO SEU VENTRE FOI BERÇO; ÀS MÃES DO ESTUPRO MAS QUE ACEITARAM O FRUTO; ÀS MÃES NOS PRESÍDIOS E ÀS MÃES AGUARDANDO DO LADO DE FORA PARA VISITÁ-LAS; ÀS MÃES DOS PROSTÍBULOS; ÀS MÃES SOLITÁRIAS RECOLHIDAS EM HOSPITAIS, ABRIGOS E ASILOS; ÀS MÃES QUE DEDICAM SEUS DIAS A FILHOS ALHEIOS; ÀS MÃES QUE NÃO GESTARAM MAS ACALENTAM E CUIDAM DOS QUE LHES CHEGARAM POR OUTRAS VIAS E ÀS MUITAS QUE RECOLHEM OS QUE JAZEM AO DESALENTO NAS RUAS; ÀS MÃES MÉDICAS, ENFERMEIRAS, CUIDADORAS, TRABALHADORAS DE TANTOS OFÍCIOS E TANTAS ÁREAS QUE AS MANTÊM LONGE NESSA DATA.
PARABÉNS ÀS MÃES QUE SEM MEDO MILITAM POR MELHORES CONDIÇÕES DE JUSTIÇA SOCIAL PARA SEUS FILHOS E PARA OS FILHOS DE TODOS; ÀS MÃES QUE NÃO ESMORECEM DIANTE DE PRECONCEITO, RACISMO, DESRESPEITO E DESFAÇATEZ DE TODO TIPO.
PARABÉNS ÀS MÃES COMBALIDAS PELA GUERRA QUE BUSCAM INCANSÁVEIS SEUS FILHOS NOS ESCOMBROS OU ENTRE OS CORPOS COBERTOS; ÀS MÃES QUE A FOME NÃO ESMORECE E A QUALQUER CUSTO ALIMENTAM SEUS FILHOS COM AS MIGALHAS QUE OS PODEROSOS DEIXAM CAIR; ÀS MÃES MALNUTRIDAS QUE MESMO ASSIM OFERECEM O SEIO MURCHO E O LEITE RALO AO FILHO PEQUENO.
Quanto mais ainda a refletir, inclusive em homens, homoafetivos ou não, solos ou não, que se tornam verdadeiras mães...
E há ainda também as mães que aqui nos receberam para mais uma oportunidade de recomeço, mas que nos precederam no retorno à outra dimensão; que de lá, onde quer que seja, provavelmente ainda velem por nós; e possivelmente não mais apenas como seus filhos e filhas, mas como companheiros e companheiros de caminhada, aqui e no além.
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