Por Doris Gandres
Bem conhecia Allan Kardec e o Espiritismo o Sr. Victorien Sardou, quando mandou gravar a seguinte frase no alto do dólmen tumular de Kardec, no cemitério Pierre Lachaise, em Paris: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar – tal é a lei”. Não seria possível definir melhor com tão poucas palavras essa misericordiosa lei de Deus, a Lei do Progresso, que, além de garantir a nossa imortalidade, ainda nos oferece oportunidades ilimitadas de fazer e refazer até aprendermos a fazer o bem.
Essa garantia de imortalidade, a certeza da concessão de “ene” vidas futuras para a construção do nosso aperfeiçoamento e, consequentemente, da nossa felicidade; a conquista da fé racionada bem compreendida que alimenta a nossa religiosidade e extingue o nosso religiosismo, fruto de uma crença fanática e do comodismo; e a transparência e a objetividade dos princípios espiritistas firmados nas leis divinas, abrem para nós, Humanidade, encarnada e desencarnada, um horizonte ilimitado de possibilidades de transformação e renovação e, obviamente, de progresso espiritual.
Ensina-nos a doutrina que todo Espírito traz em si mesmo a capacidade de crescimento intelecto-moral, mas o que frequentemente lhe falta é a verdadeira vontade de empreender os esforços necessários para galgar mais rapidamente os patamares evolutivos, o que na maioria das vezes não é fácil e requer persistência e esforço continuado. Todavia, sabemos ainda que, uma vez feita a conquista espiritual, ela jamais se perde – pode eventualmente ficar ofuscada em função de necessidades corretivas; no entanto, todos nós avançaremos apesar de nós...
Outro ensinamento precioso para nós é o de que Deus não criou nenhum Espírito destinado ao mal – criou-o simples e ignorante, apto para o bem ou para o mal e possuidor de livre-arbítrio, ferramenta fundamental para sua evolução; é essa ferramenta que lhe permitirá realizar escolhas que o situarão numa condição ou noutra, ou seja, no caminho do bem ou do mal – mas, como também nos esclarecem os mais evoluídos, em nosso estágio, em geral, é o excesso do mal que nos faz compreender a necessidade do bem e das reformas.
Assim, entendemos que aquele companheiro de jornada terrena que ainda se encontra enredado com o mal, praticando desordens, atrocidades e crimes de todo tipo, é simplesmente um irmão ainda em condição espiritual precária do ponto de vista moral, pois se temos que passar pela fieira da ignorância, não precisamos passar pela fieira do mal. Durante a existência física, muitas vezes nos encontramos em uma situação de envolvimento tal que podemos estar sujeitos ao arrastamento – mas nos asseguram os mais esclarecidos que o arrastamento não é irresistível, se a nossa vontade de resistir for real e efetiva.
Trazemos desde a criação o senso moral e o sentimento de justiça; e são eles de tal forma inatos que, nos dizem os Espíritos, “nos revoltamos ao pensamento de uma injustiça”, e ainda afirmam: “eis porque encontrais frequentemente entre os homens simples e primitivos noções mais exatas de justiça do que entre pessoas de muito saber”. Fazem os Amigos ainda uma comparação extremamente clara e poética: “Existem, portanto, no selvagem, como o princípio do aroma no botão de uma flor que ainda não desabrochou”.
O que se depreende desses esclarecimentos é, em muitos casos, tendo desenvolvido mais a parte intelectual e material do que a espiritual, as nossas escolhas são firmadas no interesse pessoal mal compreendido e não permitem o desabrochar sereno dessas aptidões inatas, que nos evitariam muitas das dificuldades que semeamos ao longo da nossa estrada evolutiva.
Temos absoluta liberdade de pensamento e de consciência, apesar de geralmente querermos nos furtar a essa realidade e tentar transmitir a ombros alheios o peso de nossas escolhas ou de nossa omissão; contudo, é justamente essa liberdade que nos confere a responsabilidade e a dignidade necessárias ao progresso espiritual.
Sabemos que cada um de nós, Espírito, não importando se encarnado ou desencarnado, somos únicos, com o acervo individual que cada um amealhou no decorrer do tempo e, logicamente, com sua experiência própria, além de seus próprios compromissos e responsabilidades – disso decorre o fato de que cada um está no grau de elevação que lhe é possível. E que cabe a cada um o trabalho, ainda que árduo e cansativo e às vezes aparentemente infrutífero, para a realização de uma semeadura cada vez mais consciente e lúcida sempre alicerçada na fraternidade e na solidariedade, até porque sabemos que não estamos desamparados.
E aos que se adiantaram, ainda que apenas um pouco, cabe compreender o retardatário – seja de que nível for e qualquer tenha sido seu equívoco – e envidar todos os esforços possíveis para auxiliá-lo a caminhar, a cada passo, com mais entendimento das leis divinas.
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